quarta-feira, 25 de julho de 2007

Família Muda-se

"Família muda-se" é uma comédia familiar de costumes, cheia de personagens que poderiam ser nossos vizinhos ou até mesmo familiares. Um texto acessível e de fácil identificação por parte da platéia, que se diverte e até mesmo se emociona com uma história simples e deliciosa que narra encontros e desencontros. Com música e dança, o espetáculo tem um pique ágil que não decai em momento algum.

A peça retrata a vida de uma família que, prestes a se mudar, organiza um bazar para vender as tralhas que lembram o passado. Neste meio tempo, o marido, que havia desaparecido, reaparece e muda tudo novamente. O conflito entre pai e filha, a relação entre marido e mulher, que reascende uma velha chama, e a presença de vários personagens, que orbitam em volta deste núcleo familiar, conferem um charme especial ao todo. Outro detalhe interessante são os números de dança coreografados por Jaime Arôxa, assim como a música feita por Zé Rodrix.

O elenco é bem entrosado e repleto de talentos, todos se divertindo muito em cena e fazendo seu trabalho com visível prazer. Odilon Wagner, que além de autor e diretor faz Jacques, o marido que retorna, talvez por estar muito por dentro do texto e também de sua competência, é sensível e imprime a dose certa de humanidade em seu personagem, o que resulta num trabalho muito bem feito. Tânia Bondezan é uma atriz deliciosamente competente, querida e talentosa, que consegue equilibrar a mãe/dona de casa e a mulher madura cheia de desejos. Mário Schoemberguer, outro ator muito talentoso, faz sem caricaturas o amigo gay da família, personagem esse indispensável hoje em dia, já que aparece um em toda família.

A novata Paula Weinfeld dá conta do recado fazendo uma adolescente rebelde e Hermano Moreira, o namorado, tem talento e é engraçado, exagerando um pouco na linguagem cheia de gírias, o que, acredito, seja exigido pela personagem. Olívia Araújo é Diva, a empregada, daquele tipo intrometida, mas boa gente. A atriz está um tom acima, mas mesmo assim diverte. Teresa Pitter é a vizinha que mal aparece, mas está divertidíssima, e Taiguara Nazareth, sem expressão, alguma, é o namorado mais novo de Fernanda. Por fim, a cereja do bolo é a deliciosa participação da veterana Etty Fraser, que vive tia Cecília, uma judia vítima do mal de Alzheimer. Etty encanta a platéia demonstrando uma surpreendente vitalidade em cena.

Outro destaque também é para a linda cenografia de Fábio Brando, com capricho e luxo de sobra. Uma curiosidade: todos os objetos de cena (que não são poucos) estão à venda. No fim da peça, os espectadores podem subir ao palco e são recebidos pelos atores. Os figurinos têm a assinatura de Ricardo Almeida e Huis Clos, e a iluminação de Wagner Freire é muito boa.

"Família muda-se" é entretenimento de primeiríssima qualidade, simples e divertido. Um daqueles casos de que o menos é mais. Odilon Wagner acertou em cheio nesse seu primeiro texto. Diversão garantida para toda a família.

Cotação: Bom (***)
Serviço:Família Muda-se
Texto e direção: Odilon Wagner
Com: Odilon Wagner, Tânia Bondezan, Etty Fraser, Mário Schoemberguer, Olívia Araújo, Paula Weinfeld, Hermano Moreira, Teresa Pitter e Taiguara Nazareth
Onde: Teatro Cultura Artística
Temporada até 26 de agosto

O Manifesto


O Manifesto estreou em 1986, na Broadway, com os atores Jessica Tandy e Hume Cronym à frente do texto, que tinha como pano de fundo a queda da bomba em Hiroshima. Já no ano seguinte, a peça foi montada no Brasil, desta vez com Beatriz Segall e Cláudio Côrrea e Castro.

Atualmente, devido ao passar do tempo e de novos acontecimentos, o texto foi atualizado pelo próprio autor, Brian Clark, colocando a guerra do Iraque em evidência. A história trata, basicamente, de um acerto de contas entre um casal da aristocracia inglesa que, depois de anos de união, coloca várias cartas na mesa. Entre elas, as posições opostas em relação à guerra, uma vez que os protagonistas são Edward Milne (Othon Bastos), um general reformado e entusiasta da guerra, e sua esposa, Margareth, uma pacifista (Eva Wilma).

A “guerra” entre os dois é declarada quando, em sua leitura diária do jornal, o general se depara com um manifesto pacifista assinado por várias personalidades, entre elas, sua esposa. A partir daí, toda uma vida entra em pauta: mágoas, ressentimentos, acusações e dúvidas.Com um texto atual e inteligente, Clark sabe dosar bem as brigas e os momentos de ternura entre o casal, que verdadeiramente se ama, apesar de estar em lados opostos do front. E quando a morte vira algo concreto e próximo do casal, muita coisa muda.Eva Wilma, mais uma vez brilhante em cena, mostra-se vigorosa e na melhor forma.

Mesclando várias emoções, a atriz sabe aproveitar um personagem que, quando mais para o final, mais chama atenção para si. Tão talentoso quanto, Othon Bastos faz, ao lado da atriz, uma dupla que se completa, sabendo “sair” de cena quando é a vez de sua parceira brilhar, além de, com o ar ranzinza do personagem, chegar a divertir em alguns momentos.A direção de Flávio Marinho é delicada, competente e muito generosa com os atores.
O cenário é o de uma casa inglesa de um bom nível social, rico e cheio de detalhes, e os figurinos simples e de acordo. Enfim, uma boa peça, com um texto atual e pertinente, que proporciona um show de interpretação da dupla de atores. Vale a pena rir e se emocionar com este manifesto.

Cotação: Bom ***
Serviço: O Manifesto
De: Brian Clark
Direção: Flávio Marinho
Com: Eva Wilma e Othon Bastos
Temporada: 26, 27, 28 e 29 de agosto em Porto Alegre, no Teatro São Pedro

Motel Paradiso

"Motel Paradiso" é mais uma comédia de costumes que invoca a discussão de valores morais, falcatruas e politicagens. No entanto, em se tratando de uma obra de Juca de Oliveira, um mestre nesse tipo de enredo, fica muito aquém de outros trabalhos do autor.

O texto estreou em 1982 e foi um grande sucesso, com a fantástica Maria Della Costa encabeçando o elenco. A trama, com ares de vaudeville, mostra uma dona de casa com filho e marido que mantém uma vida normal, até o filho engravidar uma adolescente e ela descobrir as traições do marido que, por sua vez, para azar - e para o desenrolar da peça - é amante da esposa do seu chefe, justamente o pai da menina que engravida. Meio confuso, mas a cena das revelações gera alguns momentos divertidos.

O problema é que, na época de sua primeira montagem, a história do filho era chocante, ao passo que, para os dias de hoje, onde se mata e rouba por nada, alguém engravidar outro alguém, mesmo que menor de idade, não é tão grave. Isso acaba por tornar a peça datada, e pouco verossímil nessa parte, mas as situações que se seguem, como traição, roubo, e outros maus exemplos, acabam divertindo o público. Embora não se trate de um texto ruim, como já vimos esse mote em tantas peças, ele fica cansativo e repetitivo.

O cenário é dividido em três, à esquerda a sala da família, à direita o escritório do banco e, no centro, o quarto do motel do título. Trata-se de um cenário prático, mas pobre e sem brilho, assim como iluminação e figurinos, que não dizem nada.

O talentoso Roberto Lage está à frente da direção, e o elenco é cheio de altos e baixos: Bárbara Bruno, que faz a dona de casa Lourdes, convence no papel e é, disparada, a melhor em cena; Mauro de Almeida, o marido traidor, começa exagerado, mas tem o timming da comédia e vai, pouco a pouco, envolvendo a platéia; o presidente do banco é vivido por Ben Hur Prado de forma convincente; Raoni Carneiro é o filho, ator cru, mas que não é de todo mal, e, por fim, Cris Bonna, Gerardo Franco e Maria Laura Nogueira são caricatos e exagerados ao extremo, sendo que a primeira chega a ser insuportável.

Com vários pontos fracos, o elenco, no conjunto, acaba segurando a peça, e as gargalhadas da platéia estão garantidas. Um programa bom, para rir um pouco das nossas próprias desgraças e, em seguida, esquecer.

Cotação: Regular (**)
Serviço: Motel Paradiso
De: Juca De Oliveira
Direção: Roberto Lage
Com: Bárbara Bruno, Mauro de Almeida, Raoni Carneiro, Bem Hur Prado, Cris Bonna, Maria Laura Nogueira e Gerardo Franco
Onde: Teatro Bibi Ferreira-SP
Temporada: Até 26 de agosto